domingo, 9 de novembro de 2008

Conto: O sovaco de Mirabel


Mirabel nunca compreendeu porque seus pêlos do sovaco causavam repúdia aos outros. Acreditava fielmente que suas axilas peludas poderiam exalar uma quantidade de feromônio suficiente, que faria o Vaticano na Pascoa virar um bacanal do inferno.
Constava que algumas peculiaridades a cercavam . Sentia um tesão imensurável quando depilava seus pêlos. Quando estavam bem compridos, arrancava-os pela raiz. Nada a fazia gozar senão a dor que sentia com o trauma da extração, dos poros abertos, da auto-flagelação.
A depilação era insuportavelmente quente, úmida e latente. A axila pelada ganhava vida, os pêlos ferviam de vontade de crescer e ela, esperava ansiosa pelo crescimento deles, para novamente sequestrá-los.Embora gozasse profundamente com a dor da ruptura de micro-vasos, e raizes extraídas, sua axila peluda lhe completava, lhe conferia seu direito natural de ser fêmea, mamífera em espécie, ser pura e natural, sexual e primitiva.
Para Mirabel, sua axila era sua outra vagina, gorducha, suada, peluda e sem orifício. Enquanto aguardava o crescimento dos pêlos adolescentes, masturbava-os e cheirava-os, com seus olhos fechados. Aspirava com vontade, o suor animalesco, o cheiro dela mesma, de sua essência. Para Mirabel, o sovaco era das suas bocetas, a melhor, a mais sensual.
Um dia Mirabel acordou incomodada com uma fétida sudorese, mesmo desconfortável, sentiu uma atração impetuosa, um furor inexplicável e incrivelmente íntimo. Sem pensar muito tascou uma lambida no suor que escorria da vasta axila peluda.
Determinada, sugava o seu sovaco incansavelmente, até seus pelos ficarem encharcados e, seu maxilar falhar em cansaço. O odor de sua saliva misturada ao forte cheiro de suor, tornou-se um perfume irresístivel, Nirvana de sua existência, motivo de obsessão que a faria desistir dos seus orgasmos eternamente…
…Naquele dia, Mirabel, decidiu nunca mais se depilar.

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